Hoje dei de caras com aquelas duas caixas de sapatos que estão na parte de cima do meu roupeiro. Aquelas que nunca abro e que raramente me lembro que existem, a não ser quando por algum motivo me ponho a remexer nas tralhas. Vi-as e, pela primeira vez desde há muitos anos, peguei nelas.

O que me ocorreu enquanto arrumava foi, para poupar espaço, colocar os conteúdos das caixas de sapatos numa velha mala de viagem compacta, daquelas que servem só para ir de fim de semana porque não cabe lá dentro muita coisa. A mala foi a primeira que comprei numa viagem ao Porto, a minha primeira viagem de avião e a primeira viagem que fiz com o Sérgio (acabei de reparar que está também ela, a mala, carregada de significados e memórias). Na altura parecia-me que nunca ia precisar de grandes malas porque não ia fazer grandes viagens. Enganei-me e a prova disso é que só a usei nessa vez, porque me parece sempre demasiado pequena para o que tenho a levar.

A mala estava tão esquecida como os conteúdos das caixas: as cartas, os pequenos objectos e tantas outras tralhas biográficas que sei que guardei para despertar memórias. Peguei em duas ou três cartas e ia começar a lê-las mas depois percebi que não me apetecia. Não senti especial empatia por nada daquilo, nem vontade de fazer uma viagem ao passado. Cheguei mesmo a pensar que se calhar podia deitar tudo fora porque não ia fazer diferença nenhuma na minha vida. Se calhar tenho razão, não vai mesmo. Ou então vai, porque a verdade é que transferi tudo para a mala e voltei a arrumá-la no lugar. Talvez um dia me faça sentido remexer no passado. Ou então talvez não, mas sinto-me melhor assim, sabendo que arrumei as minhas memórias numa mala de viagem.  

4 comentários

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    1. Acho que sim, mas ando a tentar o minimalismo por isso questiono muito bem tudo o que tenho e o que preciso.

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  2. Eu cá estou dividida. Sou a favor do minimalismo, no entanto não me consigo desfazer de certas coisas...

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    1. Nem eu. Acho que serei sempre uma aspirante a minimalista 😀

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