A Praia de Faro é uma das minhas preferidas no inverno. Digo "no inverno" porque tem um areal pouco extenso que facilmente nos faz sentir como sardinhas em lata no pico do verão, quando toda a gente da cidade e arredores a escolhe para passar os seus dias de descanso. O estacionamento é impossível nessa altura, são muitos os dias em que o vento por lá sopra forte e desagradável, e o mar não é muito seguro porque faz um fundão que pode tornar-se perigoso para os mais distraídos. Contudo, ninguém lhe tira a mágica de reunir movimentos associativos interessantes, como as escolas de surf e canoagem, os cafés catitas e o ambiente descontraído. Por isso a procuro no inverno, para passar umas boas horas a relaxar.


Fica perto do aeroporto, pelo que se vêm os aviões a descolar e aterrar a toda a hora, visão enternecida pela tranquilidade da Ria Formosa. É, além dum aglomerado de casas desordenadas, montadas ilegalmente numa língua de areia a cada ano mais estreita, uma praia de pescadores. 

Quando chegamos, à saída da ponte, deparamo-nos com casas que são, na sua grande maioria, de segunda habitação. Casas de betão, umas maiores e outras mais pequenas, erguidas sem permissão numa afronta contra a fauna natural do local. Seguindo para o lado esquerdo da praia, podemos fazer o percurso pedestre até à barra, onde a Ria Formosa se une com o mar. Pelo caminho encontramos as casas dos pescadores que lá habitam todo o ano e que são, elas próprias, cheias de pequenos detalhes peculiares.


São casas que anunciam as condições precárias dos que lá vivem. Casas fustigadas pelo tempo, pelo clima agreste da praia e pela ameaça constante de serem, um dia, deitadas abaixo. Muito se tem falado sobre devolver às dunas a sua tranquilidade, afastar o latão, o lixo e as redes de pesca deixados pela areia. Muito se fala mas nada se tem feito, e aquelas casas continuam a ser lar de direito das famílias que retiram da ria e do mar o seu sustento. Mantém-se quieta, presente mas silenciada, a necessidade de devolver à natureza o que lhe pertence.   


O percurso até à barra está cheio de histórias de vida de gente que remedeia e faz durar ao máximo o seu tecto. Histórias de gente que tem os seus animais de companhia, que improvisa acessos e galinheiros, que vive o melhor que pode. 

Pelo caminho, enquanto reparava nos detalhes das vidas de alguém, questionava-me qual é a história daqueles objetos pendurados nas paredes, ou deixados ao acaso na areia, ou numa cadeira qualquer. O que terá para nos contar o casaco deixado na rua, o anjo pendurado na parede, ou a placa que avisa para ter cuidado com o Rotweiller?   


E quando o sol se põe, quando no horizonte e na água tudo se pinta de rosa e azul, quando o a areia se torna mais dourada e os passadiços esmorecem, quietos, de madeira fria, a vida silencia-se, a ria foge até ao mar que se faz ouvir ali perto, e mais um dia chega ao fim.

5 comentários

  1. Este ensaio fotográfico está maravilhoso, penso que sejam as cores melancólicas, a diversidade de fotos macro com as fotos do geral.
    Passear pelas praias do algarve no Inverno deve ser das actividades que mais gosto de fazer na vida, aquele cheiro intenso a maresia, o sol a por se tão cedo com cores tão vibrantes, o seres a única pessoa ali...

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  2. Também adoro este passeio, e também no Inverno. Realmente no Verão é impossível lá ir!

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  3. Tb já fiz esse passeio e gostei muitooooooooo!!! E pelos vistos tive sorte, pois das poucas vezes que fui à praia de Faro não apanhei vento. Que sorte hein? :)
    Gosto muito das tuas fotos!

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  4. As ilhas ai mesmo ao lado de Faro são a minha paixão =)
    Gosto das fotos!!

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