Quando o mundo nos manda fazer um reboot
21.3.20
Ao oitavo dia de isolamento social voluntário, quando volveram dois dias desde que decretado o Estado de Emergência, decidi escrever. Há uma nova forma de estar a que a Covid-19 nos obriga. O mundo mandou-nos suspender a vida, trocar as prioridades, atentar a todos os passos, ser conscientes e responsáveis, por nós e por todos.
Tivemos que nos distanciar. Lembro-me de muitas reflexões feitas sobre os tempos modernos, sobre o isolamento social calado e ignorado de algumas franjas da população, sobre o estado geral de desatenção de todos e de alguns em particular ao que mexe além do seu/nosso umbigo. Já estávamos distantes mas não sabíamos que podíamos ficar mais. Desconhecíamos que tínhamos mesmo que nos desconectar de todos para nos ligarmos um dia mais tarde. De repente o nosso isolamento físico obrigatório fez-nos ser imaginativos, conhecer os vizinhos do quarteirão e do prédio, cumprimentar aquela única pessoa que circula nas ruas durante a curta incursão que fazemos para adquirir bens essenciais ou apanhar ar. Neste reboliço solitário em que estamos, acontece que nos ligamos aos outros e aos nossos mais do que nunca nas redes sociais. Telefonamos, procuramos saber, queremos saber. Inventamos tantas formas diferentes de nos entreter e de entreter os outros que de repente percebemos que tudo é possível se tivermos tempo, se disponibilizarmos esse tempo para existir fora da nossa bolha solitária. Não falo da bolha onde estamos agora... falo daquela que tínhamos antes do Corona virus vir ditar as novas regras da nossa sociabilidade. Acho que, muito curiosa e ironicamente, a nossa bolha rebentou e agora que temos de nos isolar é que abrimos e entregámos ao mundo o melhor de nós. Mas tivemos que nos distanciar! Agora não há abraços e por isso estamos a descobrir, usar e abusar de outras formas de mostrar afeto. Se calhar agora existimos mais presentes do que nunca na vida dos nossos, apesar de estarmos fisicamente longe. Ainda nos encontramos, contudo, a aprender. E caramba, custa viver sem um abraço!
Tivemos que abrandar. Recordo os rumores daquela existência um tanto prepotente de alguns, da maioria de nós, como se fôssemos verdadeiros donos do mundo, absorvidos em atos coletivos e individuais de "quero, posso e mando" (foi há uns meses atrás, mas o tempo agora tem uma dimensão maior). A norte do globo a vida faz-se cheia de pressas porque temos que ser muito ativos e eficientes para ter uma existência boa e que conte, ganhando dinheiro para comprar o que precisamos (ou não precisamos, mas achamos que sim), vivendo eternamente insatisfeitos e à procura de mais. De repente tivemos que abrandar. Entrámos em modo de sobrevivência. Desburocatrizámos processos e procedimentos, alargámos prazos, tornámos-nos flexíveis e compreensivos face às adversidades. Abrandámos as viagens, a produção, o consumo e deixámos o ambiente respirar e desintoxicar-se de nós. Adaptámo-nos porque quisemos, porque precisámos e se isso não nos mostra que querendo, em coletivo, podemos mudar o nosso modo de vida, então não sei o que mostrará. Não sei se realmente vamos aprender e mudar depois disto, ou se voltaremos a ser exatamente como antes ou pior (porque entretanto teremos que recuperar o tempo perdido neste período de pausa e reclusão). Se calhar o que faremos com esta oportunidade de refletir e aprender pouco importa, interessa é que agora tivemos mesmo que abrandar!
Tivemos que nos adaptar. Esta é a nossa vida agora e não se sabe por quanto tempo, por isso temos a opção de desesperar e passar dias em lamentos ou de procurar, dentro do possível, manter uma atitude ativa e positiva em que assumimos a situação e cumprimos com responsabilidade e cuidado o que tem de ser. Será mais fácil para uns do que para outros, mas esta é também uma oportunidade de percebermos de que fibra somos feitos e de desenvolvermos mecanismos internos de luta pelo nosso bem-estar físico e mental. Tivemos que nos adaptar à ideia tantas vezes por nós ignorada de que não podemos controlar tudo e de que por vezes estar quietos é o melhor a fazer. Gerir o drama coletivo e nas entrelinhas as nossas crises familiares e pessoais é o que tem mais peso. É que o Covid-19 não pausou as angustias da vida, apenas lhes veio trazer uma carga maior e mais difícil de suportar. Mas o sol continua a brilhar, os dias acordam e adormecem e nós com eles por isso a palavra de ordem é lutar, lutar, lutar! E persistir, resistir, insistir. Porque sim, somos capazes de nos adaptar!
Tivemos que nos adaptar. Esta é a nossa vida agora e não se sabe por quanto tempo, por isso temos a opção de desesperar e passar dias em lamentos ou de procurar, dentro do possível, manter uma atitude ativa e positiva em que assumimos a situação e cumprimos com responsabilidade e cuidado o que tem de ser. Será mais fácil para uns do que para outros, mas esta é também uma oportunidade de percebermos de que fibra somos feitos e de desenvolvermos mecanismos internos de luta pelo nosso bem-estar físico e mental. Tivemos que nos adaptar à ideia tantas vezes por nós ignorada de que não podemos controlar tudo e de que por vezes estar quietos é o melhor a fazer. Gerir o drama coletivo e nas entrelinhas as nossas crises familiares e pessoais é o que tem mais peso. É que o Covid-19 não pausou as angustias da vida, apenas lhes veio trazer uma carga maior e mais difícil de suportar. Mas o sol continua a brilhar, os dias acordam e adormecem e nós com eles por isso a palavra de ordem é lutar, lutar, lutar! E persistir, resistir, insistir. Porque sim, somos capazes de nos adaptar!