30 dias sem açúcar adicionado
16.9.17
Tudo começou com um jantar de família e uma tarte de limão que tínhamos comprado numa pastelaria para sobremesa. A mesma estava tão carregada de açúcar que nos deixou a todos meio enjoados, e colocou-nos a falar sobre os malefícios do açúcar para a saúde. O Sérgio, depois de anos de sermões meus sobre a importância de se moderar o consumo de açúcar (aos quais nunca ligou nenhuma, já agora!), partilhou connosco sobre um vídeo que vira recentemente, em que um rapaz tinha passado um mês sem consumir açúcar, o que resultara em benefícios claros para a sua saúde. Pegando no mote, desafiei-o a fazermos o mesmo e ele aceitou. Foi assim que assumimos o compromisso perante nós e a família de não tocar em alimentos com açúcar adicionado durante os próximos 30 dias.
Não foi necessariamente uma novidade para nós, porque desde que estamos a viver juntos que encetei um programa regrado para transformar de vez a forma como nos alimentamos. O Sérgio alinhou nisso muito bem, mas tinha sempre a tentação de petiscar porcarias aqui e ali, e este desafio foi a oportunidade ideal para mudar isso.
Sobre os princípios que regem a nossa alimentação falar-vos-ei em melhor detalhe um dia destes por aqui, mas o que importa mesmo partilhar agora é que, tendo já algum cuidado com aquilo que se come, excluir o açúcar de vez não é um grande drama, nem exige uma ginástica por aí além. Em contrapartida, para os que têm uma alimentação menos cuidada, tenho a certeza que é um grande desafio e que pode mudar por completo a forma como alguém se relaciona com a comida.
Ressacar e desintoxicar
Mais do que falta do açúcar, senti falta inicialmente da liberdade de poder comer o que quero, quando me apetece. Não tinha, até esta altura, tido restrições alimentares a não ser moderar o consumo de alguns alimentos. Na verdade nunca fui, e continuo a não ser fã de dietas, muito menos das que nos vedam por completo o acesso a qualquer tipo de alimento. Acho sempre que a proibição de comer um determinado alimento provoca maior descontrolo no seu consumo do que se o comermos moderadamente, e foi isso que constatei comigo na primeira semana. Dei comigo a ir ao supermercado e a sentir desejo por alimentos como bolachas ou chocolates, que normalmente me passariam despercebidos. E quando digo "sentir desejo" é mesmo olhar para uma bolacha com recheio de chocolate e dar comigo a salivar e a imaginar-lhe o sabor. O facto de não poder comer doces fez-me desejá-los como nunca, e creio que isso foi o meu processo de desintoxicação (sobretudo psicológica) do açúcar.
Menos vontade de consumir doces e outras porcarias
Passando as primeiras duas semanas, diria que veio a fase em que notei uma consecutiva falta de vontade de consumir alimentos doces. O palato habituou-se a outros sabores, e o cérebro deixou de estar para aí direcionado. Acho que quanto mais porcarias consumimos, mais vontade temos delas, e quando reeducamos o nosso palato, o cérebro entra noutro registo. No fundo trata-se de reprogramar o cérebro para os alimentos sem açúcar.
Maior bem estar generalizado
Não chegámos ao ponto de fazer exames de sangue para medir resultados antes e depois, mas ainda assim notámos algumas mudanças físicas: perda de peso (não eu, mas o Sérgio, que emagreceu 3 quilos). Eu notei algo tão simples como barriga menos inchada, menos azia ou sensação de enfartamento e uma energia diferente ao longo do dia. O Sérgio notou diminuição da ansiedade. Dizem que o açúcar tem efeitos no sistema nervoso central, se calhar tem mesmo. :)
Maior consciência sobre o que comer
O exercício de pensar uma vida sem açúcar obriga-nos a olhar para os rótulos. Incorporei isso de tal forma que agora tenho sempre atenção neles, só para ter a certeza do que estou a consumir. Percebi que o açúcar está presente em grande parte dos alimentos que existem num supermercado, mesmo nos salgados como fiambre, molho de soja e mostarda, por exemplo. Os cereais, mesmo as grânolas (sobretudo as grânolas), muesli, etc, etc, também contêm açúcar adicionado. As bebidas de soja, arroz, aveia e similares também, por isso é preciso saber escolhê-las (porque também há as que não têm). Por vezes pensamos que estamos a consumir alimentos saudáveis mas estamos enganados, porque muitos produtos levam um extra de açúcar, além daquele que já contêm naturalmente. No outro dia li um artigo muito interessante em que a médica Cristina Sales falava na toxicidade dos alimentos preparados pela indústria alimentar, que nos fornece produtos que o organismo não consegue processar. No fundo todos devíamos fazer essa reflexão e encarar a alimentação como algo que nos pode tirar e dar qualidade de vida, consoante as opções que tomarmos acerca daquilo que ingerimos.
Outro conhecimento sobre alternativas saudáveis ao açúcar
Se a indústria alimentar consegue fazer algo nós também conseguimos fazê-lo em casa. Claro que dá mais trabalho comprar aveia, sementes e frutos secos, misturar tudo e torrar para fazer grânola caseira, do que enfiar um pacote no cesto e pagar na caixa do supermercado. Contudo, fazendo em casa utilizamos os ingredientes que queremos e podemos ser nós a decidir sobre o que estamos a comer. Há alimentos que já tinha deixado de comprar há muito tempo, mas isso não quer dizer que de vez em quando não recorra a eles para desenrascar. Contudo, acho que o mais sensato é tentarmos ao máximo ingerir alimentos frescos, preparados por nós de raiz, e procurar alternativas saudáveis ao açúcar como a stevia, o mel ou até mesmo tipos de açúcar menos processados do que o açúcar branco. No fundo confirmei aquilo que já sabia: quanto mais natural for a nossa alimentação, quanto mais pudermos ser nós a preparar e cozinhar diariamente aquilo que consumimos, quanto mais utilizarmos alimentos frescos em detrimento dos processados, maior controlo vamos ter sobre aquilo que estamos a comer. Isso só pode ser algo bom, ou não?