De manhã, antes de mais nada, tive que procurar onde comprar um adaptador para tomadas elétricas para poder carregar o telemóvel. Lembro-me de ter tido esse pensamento algures na semana entre comprar o bilhete e embarcar, mas claro, qual seria a piada de viajar para a Irlanda com tudo o que vou precisar? A sorte foi ter-me lembrado de carregar uma power bank na véspera da viagem, que me safou durante o dia, porque curiosamente precisei imenso do telemóvel para me orientar e teria ficado sem bateria.

Foi tranquilo chegar à Connolly Station de autocarro para ir no Dart até Bray. Tinha pensado bem nessa parte da viagem, mas esqueci-me de ver tudo o resto. Ocorreu-me, quando cheguei a Bray e saí da estação ferroviária, que não fazia ideia para onde me virar para iniciar a caminhada pelo Cliff Walk que me levaria a Greystones. 


Não vendo ninguém logo de imediato a quem perguntar, lembrei-me de consultar o google maps. Este indicou-me que o início do percurso ficava longe e que para chegar lá deveria ir de autocarro, ou então teria que caminhar durante mais de uma hora. Fiz as contas: quase uma da tarde, caminhar uma hora até ao início do percurso, mais duas horas de percurso e escurecia às quatro, além de que ainda nem tinha almoçado... optei por ir de autocarro.

Resultado: distraí-me a ver a paisagem e deixei passar a minha paragem. Saí na próxima, no meio de um descampado, numa zona já fora do aglomerado residencial de Bray e voltei para trás uns metros, a pé. Era a subir e o sol escondeu-se ameaçando chover. Pelo caminho, enquanto pensava porque é que me distraio sempre e faço asneira, tirei da mochila a sandes que tinha levado para comer e percebi que, algures entre entrar e sair do autocarro, tinha perdido o Leap card que tinha carregado com um montante que me daria para viajar nos transportes públicos nos próximos três dias. Lindo!


Segui uma estrada secundária durante uns vinte minutos por entre prados verdejantes até chegar a um pequeno aglomerado residencial que passei até alcançar o fim da estrada de alcatrão e me deparar com uma cancela fechada. Havia um indicativo a informar que ia entrar numa quinta e que deveria manter a cancela fechada depois de passar. Deveria virar à direita para seguir o Cliff Walk para Greystones e à esquerda para ir na direção de Bray. 

Pus-me a caminho num terreno enlameado e iniciei, oficialmente, o meu percurso. Claro que nesse instante percebi que havia um caminho desde Bray que ia ter àquela biforcação e que o percurso, no ponto em que eu estava, não era um começo, mas sim continuidade. Enlamiei calças e botas com salpicos e a determinhada altura percebi que mais valia não me pôr a evitar todas as poças que haviam pelo caminho. Eram muitas e nem sempre dava para as contornar. Fiz o percurso caminhando rápido e parando só para fotografar em alguns pontos mais estratégicos. Fui-me cruzando com algumas pessoas.  

Chegando a Greystones parei na praia (de pedras cinzentas - faz sentido!) para fotografar a costa recortada. Percorri um pouco a cidade, sentei-me num banco a contemplar mas não me demorei especialmente, porque queria chegar a Wicklow e eram quase três da tarde. Na estação de comboios comprei novo Leap, esperei 20 minutos pelo comboio para Wicklow e quando este chegou não entrei, porque percebi que basicamente ia fazer a viagem para chegar lá já a escurecer e ter que voltar para trás.

Arrependi-me da decisão logo assim que vi o comboio partir e relembrei-me da minha velha máxima de que mais vale viver com o arrependimento do que faço do que não faço. Sei que pesou o facto de estar a andar às voltas desde as dez da manhã e não ter parado sequer para almoçar. Doíam-me os pés e estava um pouco irritada por ter perdido o cartão. Os meus planos eram sair mais cedo de Dublin e como não consegui acabei por perder tempo que me fez falta para cumprir tudo o que tinha planeado para esse dia. Mais vale aceitar esse facto e esquecer - foi o que acabei por pensar.


A boa notícia é que não me perdi, ou quando me perdi rapidamente me encontrei. Finalmente comecei a perceber como me orientar com o google maps (nunca o fiz antes porque havia sempre alguém a usá-lo por mim) e consegui sair de Dublin em direção ao desconhecido para fazer uma caminhada num local que pensei ser mais inóspito do que é realmente.


No regresso a Dublin decidi seguir da estação a pé até casa, mesmo sabendo que era longe, porque me estava a sentir relaxada e apetecia-me caminhar nas calmas para começar a compreender a cidade. Estava a anoitecer mas consegui ainda fotografar no lusco-fusco, o que me fez pensar que teria tido tempo de chegar a Wicklow ainda de dia. Vi a ponte da arpa (tinha lido sobre ela) e segui tranquilamente à beira-rio, já esquecida que me doíam os pés, os ombros da mochila pesada e tudo o resto.  


Ah! Já me esquecia que conheci um senhor irlandês no Dart que meteu conversa para me perguntar de onde sou, depois de me ouvir a falar ao telemóvel. Recomendou-me uma série de sítios para visitar. São simpáticas as gentes daqui, gentis e atenciosas, até mesmo na cidade. Há muita agitação nas ruas, pessoas, carros, muita chuva e humidade. Não senti frio ao longo do dia, talvez por ser tão húmido. Hoje acabei por não ir a restaurantes porque tinha levado snacks para me manter durante o dia e como estava tão cansada não me apeteceu parar para jantar ao anoitecer. Amanhã trato disso, for shore!

Enviar um comentário

Com tecnologia do Blogger.