Seria muito mais interessante construir um daqueles textos em que já percebemos todos os recados e lições que determinada fase da nossa vida nos quer dar, para partilhar com os outros o sentido da epifania que tivemos algures enquanto renascíamos das cinzas, mostrando que só emergiram cenas boas da bosta de merda que pisámos no caminho. Ainda não cheguei lá. Ando perto disso, tenho dias melhores que outros, mas finjo muito bem as minhas certezas e sou boa a recalcar os milhentos estados de alma que me afligem ao longo de um mesmo dia.     

Perdi o meu amor. A ironia de tudo isto é que, mesmo com muita boa gente à minha volta, assim como tudo o que poderia desejar, ainda sinto um vazio absoluto que nada, nem ninguém, parece preencher. Reconstrui-me, desafiei-me, reinventei-me, fui à luta, levantei-me dos trambolhões, aprendi a caminhar sozinha e confiante. Orgulhosa de mim sorri, chorei, vi milhentas vezes o copo meio cheio quando o primeiro impulso era vê-lo meio vazio. Ainda assim, volvido um ano, tenho a certeza absoluta da minha incapacidade (que por vezes parece propositada) em traçar planos e projetar um futuro sem ele. 

Tudo isto é consciente, pensado e repensado. Não estou profundamente desesperada ou infeliz como poderá parecer pelo que escrevi, estou simplesmente numa deriva por vezes serena, outras tumultuosa, em que me vou confrontando com o melhor e o pior de mim.

3 comentários

  1. Acho que é mesmo assim que ultrapassamos, ou que pelo menos tentamos ultrapassar, os maus momentos ou desilusões que vamos passando ao longo da vida! É essa a postura e andar à deriva não quer mesmo dizer que estamos completamente infelizes. Apenas existe um "problema", ou mais que um, que ainda não conseguimos resolver, ou que ainda não nos deixou de magoar!
    Faz tudo parte do "luto" e este temos que ser nós sozinhos a fazê-lo, independentemente de termos pessoas que nos fazem bem, à nossa volta!
    Beijinho :)

    ResponderEliminar
  2. E não são assim as nossas vidas? Cheias de altos e baixos, uns dias bons, outros menos bons. O importante é lamber as feridas e ir seguindo em frente. Beijinhos e muita força

    ResponderEliminar
  3. Que essa tempestade te faça mais tu, é só o que me ocorre dizer. Um beijinho grande.

    ResponderEliminar

Com tecnologia do Blogger.