Hoje visitámos dois dos bairros mais carenciados da cidade. Ficam situados em zonas de mangais e pelas águas paradas dos pântanos percebo o problema com os mosquitos e, consequentemente, dengue e malária. Para piorar, como nas casas não há latrinas, as pessoas acabam por fazer as necessidades a céu aberto, o que piora ainda mais as questões de saúde pública.


Aqui há muita falta de educação cívica, apesar de eu sentir que as condições para trabalhar isso com as comunidades existem, pelo menos no que se refere a recursos humanos.
Num dos bairros as crianças vieram em massa cumprimentar-nos. Eles ficam fascinados com a máquina fotográfica e é fácil arrancar-lhes um sorriso ou uma pose para a fotografia. Acho que também ficaram fascinados com a minha tatuagem do pé. Durante algum tempo ficaram a apontar e a olhar para o meu pé, fazendo comentários entre si. Um deles disse “tatuage” e os outros riram-se. Eu também fico encantada com eles, por serem todos tão bonitos e sorridentes, apesar dos pés descalços e das roupas rasgadas. Aprendi que “Tátá” (não sei se se escreve assim) quer dizer “Tchau”. Quando vamos embora, ainda que seja de longe, há sempre uma ou mais crianças a acenar e a gritar “Tátá”.

Fiquei psicologicamente cansada hoje. Cansada de ver tanta falta de tudo. Cansada dos contrastes proporcionados por esta espécie de pobreza “exótica”. Isto não tem nada de bonito, mas ainda assim acho que tirei fotos lindas. Esta contradição esmaga-me. Fico fascinada com algumas das fotos que tiro e incomodada com a realidade que mostram. Ao passar de jipe ou a pé por tudo isto, sinto-me uma espetadora da pobreza alheia. Hoje lembrei-me bastante do filme “Enjoy poverty” e da exploração da pobreza que de forma tão fria denuncia. Sinto-me culpada por captar o sorriso de crianças que crescem entre tanta precariedade, mas ainda assim não resisto a fotografar e trazer esses pedaços de vidas comigo. Acho que estou fascinada com um sítio que tem tanto exotismo e beleza, mas ao mesmo tempo precariedade e degradação. Lado a lado, o melhor e o pior de um lugar.



















Não encontrei uma versão integral do filme "Enjoy Poverty" no Youtube, mas fica aqui uma reportagem que foi feita sobre o mesmo, onde dá para perceberem do que se trata. Está em inglês, mas é o que há. Se se interessarem, talvez consigam encontrá-lo por outras vias. :)


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