Hoje andei às voltas para tratar de uns assuntos de família e acabei por ir parar ao Arquivo Distrital aqui da zona. A imponência do edifício gigante sem janelas faz adivinhar que por ali se passam coisas ultra secretas. Quando entrei fui recebida por um silêncio que não deixou dúvidas de que se tivesse alguma coisa para dizer, teria que fazê-lo em voz baixa. As três senhoras da recepção do arquivo não podiam ter mais ar de ratos de biblioteca, com os seus outfits clássicos e uma rectidão na recepção ao cliente que não deixa margem para muitas confianças.

Preenchi uma ficha de requisição, não pude levar a mala comigo (só algumas coisas na mão) e fui para uma sala com secretárias individuais em tom castanho nogueira. Lá encontrei um senhor velhote a vasculhar num livro daqueles já um pouco decrépitos. Parecia-me muito compenetrado, não tirava os olhos do livro. Percebi que me esperava o mesmo destino, daí a ficha de requisição que tinha sido obrigada a preencher. "Que chatice", pensei, mas logo em seguida achei que até não era assim tão mau ter nas mãos um livro com registos de nascimento do ano 1902. 

Estava eu já a encarnar a personagem de investigadora e a sentir o cheiro fantástico dos documentos e livros a cair de velhos quando escolhi a minha secretária. Queria que fosse uma daquelas com candeeiro individual, daqueles ajustáveis. Maldisse-me por não ter levado os óculos para ler (sempre dão um ar mais intelectual), mas não havia problema, só tinha que esperar que a senhora da recepção me trouxesse o livro antiquíssimo escrito à mão para eu poder procurar o registo de nascimento do bisavô Joaquim. 

Ao fim de uns minutos de espera a senhora que me atendia pediu que eu me aproximasse do balcão. Quando o fiz abriu o livro e em pouco tempo mostrou-me a página onde estava o registo que eu queria. Afinal não fui eu a procurar, o que deitou por terra a minha fantasia. Ainda tive que pagar 20€ por um papel semi-preenchido à mão com um selo branco e uma assinatura. E vá lá que o senhor velhote entretanto veio pousar, no balcão onde eu estava, o seu livro de consulta e consegui tirar-lhe com o telemóvel uma fotografia para mais tarde recordar, caso contrário, nem isso! 

4 comentários

  1. Querias ser um Sherlock Holmes! hehehhe mas que livro mesmo velhote!!

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  2. Ohhh que grande chatice!! Eu acho que era capaz de passar horas metida nesses registos, adorooo esse tipo de coisas :)))

    Beijinho*

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    1. Eu também gosto. Mas foi melhor assim, não perdi uma tarde inteira.

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