Apaguei as primeiras linhas que escrevi. Apaguei porque me apetece ir directa ao assunto e evitar qualquer tipo de subterfúgio. Ando às voltas desde há umas semanas a esta parte, com um aperto pequeno no coração, a reflectir sobre a amizade. Não colecciono amizades e não me encanto por qualquer pessoa, mas é certo que tenho conhecido boa gente com que já partilhei muitos momentos. Pessoas que tenho a sorte de dizer que são minhas amigas, que admiro e considero especiais, que estando mais longe ou mais perto vão preenchendo a minha vida.

Sempre achei que uma amizade não é feita de todos os momentos, mas sim daqueles que, apesar de toda a vida que acontece quando estamos separados, escolhemos ter a cada reencontro. Não obstante todas estas certezas sobre a amizade, o que me tem inquietado é esta pergunta constante dentro de mim: a quanto resiste uma amizade? A quanto afastamento? A quanto tempo sem nos vermos? A quantas conversas que não temos? A quantos momentos únicos da vida que acontece e que acabamos por não partilhar?

Isto inquieta-me porque sinto que, com alguns dos meus melhores amigos tem sido assim ultimamente: cada vez há mais motivos para não estar, para não ir, para não nos encontrarmos. No fundo não se fazem cobranças, percebe-se que a vida é mesmo assim, que há-de haver um dia em que vamos ter aquele momento especial para nos encontrarmos, mas, na verdade, o que acho é que no meio de tudo isto há uma vida que acontece e não é partilhada com aqueles que nos fazem mais sentido. Parece-me que se calhar, mais cedo ou mais tarde, um dia se reflectirmos, percebemos que a amizade precisa, sobretudo, de partilha e que ao arranjarmos motivos para não partilhar, acabamos por condená-la. Condená-la ao quê? Talvez a ser um esquisso daquilo que poderia ter sido de verdade.

9 comentários

  1. Acho que depende muito de caso para caso. Tenho uma amiga com quem falo muito esporadicamente. Mas quando falamos e quando estamos juntas é uma alegria, falamos de tudo e de todas as novidades e das coisas que se têm passado na nossa vida.
    Em compensação, há aquelas pessoas que com a distância parece que menos se têm para falar.
    No fundo, acho que não é tanto a quantidade de vezes com quem estamos ou falamos com alguém mas sim, como dizes, a vontade que se têm de partilhar a nossa vida com essa pessoa.

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    1. Também tenho amizades dessas e são fantásticas. Mas não deixo de me interrogar sobre isto, ando com a nuvenzinha aqui na cabeça. Não sei de onde vem, ou para onde vai... mas apeteceu.me partilhar a reflexão porque há amizades que resistem como tu disseste mas há outras que acabam por se transformar numa coisa estranha e difícil de definir. Acho que gostava que algumas das minhas amizades fossem mais intensas. E contra mim falo, porque cabe-me a mim também fazer por isso. Aliás... não escrevi isto para apontar dedos, apenas para reflectir e ver o que o pessoal pensa sobre o assunto! :)

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  2. Não te sei responder porque também ando com a mesma dúvida.

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  3. Que questão difícil! Mas o que me entristece mesmo é quando as amizades acabam porque as pessoas mudam e, de repente, estás com uma pessoa tão diferente daquela que era tua amiga que deixa de fazer sentido. Quem disse que a vida era fácil enganou-se redondamente!

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    1. Olha disso não tenho que me queixar. Acho que eu mudo, os meus amigos mudam, mas há coisas em nós, na nossa essência que permanecem inalteráveis.

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  4. Uma questão pertinente. Tenho amigos com quem não falo habitualmente e continuamos com uma relação forte. Outros, os tais que só se lembram via Facebook, que é como eu lhes chamo, vão ficando mais longe. Acho que é normal. Há pessoas que vão ficando na nossa vida, outras vão desaparecendo.

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  5. Acho que quando a amizade é verdadeira, resiste a muita distância, atrevo-me até a dizer a anos de distância. Tenho uma amizade dessas, em que estivemos 2/3 anos sem nos sentamos à mesa de um café a pôr a conversa em dia, e sai de lá a pensar, que embora muita coisa ao longo deste tempo não tenha sido partilhado com essa pessoa, a nossa amizade estava no mesmo ponto, desde a última vez que nos tínhamos sentado frente a frente! Contudo, quando nos apercebemos que as amizades não são assim tão verdadeiras, vamos sentido que estamos muito longe das pessoas e quando nos sentamos frente a frente, lá de tempos a tempos, as coisas de fato já não são o que eram... sente-se que as pessoas já não são tão verdadeiras connosco, nem há aquela cumplicidade no olhar. Ao fim ao cabo ao fazer essa tua reflexão, percebe-se que a vida traz-nos e leva-nos pessoas, bem como sentimentos... E estou numa fase da vida em que já não dou valor a algumas amizades que percebi que afinal não são assim tão verdadeiras. Dou valor sim, aquelas, que independentemente do resto, estão sempre prontas para me apoiar! Mas percebo a tua "inquietação", e reflexão... de vez em quando na vida temos que parar um pouco para refletirmos sobre determinadas coisas... Beijinhos grandes :)

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    1. :) Eu também pensei que a amizade para mim era uma coisa clara e definida. Mas se calhar não é. Se calhar nunca vai ser. Se calhar nem tenho que me preocupar com isso! :)

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