VIAGENS. Aviões, trânsito, estrada, vento na cara, novas paisagens, cidade, campo, praia, montanha, calor, frio, chuva, neve, dormir bem, dormir mal, calma, confusão, liberdade, paz, comida, pessoas, cultura, lugares, transição, ténis, botas, movimento, gargalhadas, memórias, histórias incríveis, novidade, tempo, horas, parar, caminhar, explorar, bilhetes, comboio, mochila, mala, casa atrás, o básico, o necessário, os livros, as fotografias, os postais e os imans do frigorífico são palavras soltas que me vêm à cabeça quando me lembro das minhas viagens. São palavras minhas, mas que podem também ser de tanta gente. Palavras que, a par de outras tantas, descrevem na perfeição este incrível universo.


Não pertencendo necessariamente a uma família directa de viajantes natos, tarde descobri o gosto pelas viagens. Quando era mais nova viajava sem sair do lugar, perdida em histórias e pensamentos, inspirada por tudo aquilo que nos fazia ir sem sair da minha zona de conforto. Sim, as viagens também se fazem sem o movimento do corpo, porque temos essa capacidade de estar entre lugares, no nosso pensamento, tocados pelos estímulos que nos envolvem, sejam eles uma fotografia, as páginas abertas de um livro, a degustação de um bom prato de comida, ou outros elementos capazes de nos activar os cinco sentidos. Nesse tipo de viagens sempre fui uma expert (e ainda hoje sou), pronta para me deixar levar ao sabor do vento por tudo o que me fizesse ter o gostinho de outros mundos e outras vidas. 


As outras viagens, aquelas que nos levam a outras cidades, países e/ ou continentes, essas chegaram por imposição dos tempos e dessa necessidade inegável que temos hoje em dia de nos deslocar, tornando ténue os nossos limites e fronteiras. Estava na universidade quando percebi que ia ter que me habituar a esse mundo, o das viagens, porque muitas vezes, por imposição profissional, teria que ir a outros lugares. Sofri. Sofri no início porque não estava habituada e ora tinha medo da viagem de avião, ora tinha macaquinhos no sótão que me faziam não descansar bem numa cama que não fosse a minha. Contudo, obriguei-me a essa espécie de insegurança silenciosa em relação ao desconhecido com que as viagens nos podem confrontar 24/7, pela total ausência de referências e rotinas (e que é também, para mim, hoje em dia, o que as torna tão apaixonantes). Quis para mim que viajar fosse algo natural, tal como almejei estar bem comigo em qualquer parte do mundo. Fui atrás dos medos e das inseguranças, agarrei-os e disse-lhes que não havia lugar para eles em mim, que não se iam colocar entre o que sou e a minha vontade (e necessidade) de desbravar o mundo. E assim foi.


É justamente quando relaxamos e nos entregamos às viagens que elas acontecem no seu maior esplendor. Foi quando se tornaram frequentes que comecei a sentir-lhes falta. E porque nem sempre é possível viajar para outros países, percebi que o bichinho pode também ser silenciado conhecendo outras cidades, outros locais mais perto. E sim, ainda viajo muito sem sair do lugar, inspirada por tudo o que integra a maior viagem de todas: a vida.


Quanto ao backstage deste 6 on 6, além do tema fantástico, havia uma dificuldade adicional: fotografar com o telemóvel.

Quando percebi que passo muito do meu tempo a olhar para o que me rodeia e a ver nisso um clique, entendi que tinha que me libertar da dependência da DSLR (que convenhamos, é um catramolho pouco prático) e que era inevitável incorporar as fotos de telemóvel (com as suas imperfeições inerentes) na minha vida. Foi aí que investi pela primeira vez uma pipa de massa num telemóvel só porque tinha uma câmara fotográfica um pouco melhor. Foi nesse instante que o mesmo deixou de me servir só para telefonar e enviar sms e passou a ser absolutamente essencial para registar os bons momentos. Fotografar com o telemóvel não é o mesmo que com uma DSLR, na minha opinião implica ser mais minimalista, ter mais atenção à luz e ao detalhe e ser triplamente paciente. Portanto este desafio adicional não foi peanuts (porque é sempre chato conseguir boas fotos com um aparelho que, em última instância, foi feito para telefonar), mas, como fotografo muito com o telemóvel para o Instagram, acabou por ser um pouco como: "Just anther day in the office". O resultado é este que fui deixando pelo caminho, inspirado em muitas das palavras que escrevi. Espero que gostem. 


E as 6 on 6 girls da minha vida, como será que se saíram neste duplo desafio?

10 comentários

  1. Gostei muito, mesmo muito deste teu texto, Vânia! Viajar é muito isso: a ansiedade antes, a alegria durante e a saudade depois! E que texto tão bem ilustrado - as cores da terceira foto levaram o meu coraçãozinho à praia!

    Jiji

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    1. Também gosto muito dessa, sobretudo porque como havia muita luz a definição está boa e quase que poderia ter sido tirada com uma reflex. :)

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  2. Adorei - as fotografias e, principalmente, o texto. Gostei particularmente do segundo parágrafo, quando dizes que tudo o que desperta os nossos cinco sentidos pode ser uma viagem - desde sabores a histórias de livros, a sensações ou ideias: viajar não tem de ser algo físico. Mas também o é, e é tão bom que tenhas superado os medos! Quanto a fotografar com o telemóvel, todas vocês estiveram óptimas porque é um desafio e pêras! Eu recorro ao telemóvel apenas em último caso e não me imagino a fazer o que vocês fizeram - mas agora até me parece um bom desafio :)

    Aonde (não) estou

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    1. Devias começar a explorar mais o tele... tem as duas potencialidades e sempre tens uma máquina sempre à mão. :)

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  3. Oh Vânia adorei ler sobre o teu percurso sobre as viagens, o quanto era desconfortável para agora ser quase uma necessidade. E sim, viajar fora cá dentro é uma excelente opção. Aqueles dias que sais de casa só com a camera na mão e vais explorar o local onde moras, olhas com mais clareza para os pormenores e pessoas e ficas a valorizar ainda mais o sítio onde moras, as suas particularidades e beleza.

    Claro que amei a primeira foto, uma camera tão importante quando Viajamos e ainda por cima a preto e branco! Reparei que continuas a praticar as fotos mais estudadas e olha que estas no bom caminho :)

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    1. Sim, vou tentando forçar-me a "montar" cenários para sair um pouco da minha zona de conforto.

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  4. Adorei as tuas fotos e as tuas diferentes interpretações da palavra "viajar". Realmente, tens toda a razão: dá perfeitamente para viajar sem sair do sítio, apenas com um bom livro. E é por isso que adoro viagens: porque dá para conhecer sítios novos, quer sejam no mundo, na nossa cidade ou país ou mesmo no nosso imaginário.

    Joan of July

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  5. Que giro, interpretamos o tema de forma semelhante! :) Como tal, concordo inteiramente contigo: podemos viajar de diversas formas, até mesmo sem sair de casa. O que importa é viajar, nem que seja em sonhos :) Gostei especialmente da quarta foto, com aquele pôr do sol tranquilo. Ficou com umas cores lindas!

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    1. Sim, esse pôr-do-sol resultou mesmo dum daqueles momentos em que paramos, respiramos fundo, contemplamos e daí nasce um sorriso feliz.

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