Infância. Se visitasses o passado e pudesses deixar, pousada na tua cama, em cima da tua almofada, uma carta em papel perfumado endereçada a ti mesma, a criança com confiança de quem tudo sabe e uma certa pressa de crescer, que palavras lá porias?


























Não tenhas pressa. A vida é muito mais fácil quando tens quem decida por ti, quando não sentes que o caminho que escolheres te vai traçar uma rota boa ou má. Cresce na inocência dos sorvetes de verão, das borrachas azuis que (não) apagam tinta de caneta, dos carroceis e dos mergulhos na piscina. Cresce no mundo do tempo infinito, do poder brincar e sorrir, do fantasiar. Não tenhas pressa de viver o real, de sentir o peso da idade, dos anos que crescem atrás de ti e se reduzem à tua frente. Deixa-te estar assim, nas fantasias, nas possibilidades que crias, no mundo onde tudo se vai concretizar. Não tenhas pressa de crescer, porque isso coloca-te mais perto de um dia perderes os que amas, esses que agora achas que vão viver para sempre. Na verdade vão, em ti, mas não tenhas ânsia de perceber isso, nem de saber que existem lágrimas de perda, de recusa e de frustração às quais nem sempre consegues ser resiliente. Mantém-te assim, entre sorrisos e passos despreocupados, com pensamentos só teus.  






























Deixa-te estar sem pressa, intocada pelas pressões, pelos complexos e pelas amarras que a vida tão piamente te coloca sem que te apercebas. Não te deixes aprisionar já, faz loucuras e macacadas, vive no mundo dos afetos e do apego. Bem sei que há problemas que não são problemas e que têm para ti o peso do mundo, mas acredita que há pior e um dia vais perceber que os dilemas têm o tamanho do nosso corpo, porque vão crescendo connosco. Não tenhas pressa disso, deixa-te ficar por aí, entre birras e desassossegos, muito mais tocada pelo que te faz bem do que pelo que te faz mal.  

























Não digo que ser adulto não é bom, porque o é e vais perceber isso. O poderes decidir por ti mesma é impagável e aproveitarás bem esses momentos. Mas não tenhas pressa, porque a tua idade, a tua infância, só se vive uma vez e é muito mais tranquilo pintar o mundo com as cores que mais gostamos. Permite-te que o tempo não voe, que os dias não passem num sopro e que as aprendizagens te vão chegando para te prepararem para tudo, até para lidar com aquilo para o qual não estás preparada. Deixa-te estar nesse desassossego do pensamento, nessa ânsia de tudo saber. Um dia vais sentir falta dos abraços sinceros, de estar no colo de alguém ou de ter quem cuide de ti. Por isso deixa-te estar, sem pressa de crescer. 




























Não deixes as brincadeiras, os teus impulsos e os afectos. Permite-lhes que durem muito tempo em ti e que te acompanhem sempre. Aproveita esse tempo a amassar o pão com a avó Ju e sente bem o sabor da cabidela da avó Albertina. Brinca infinitamente com os teus animais porque quando cresceres vais manter-te exactamente assim, um resultado das memórias da tua infância, do amor pelos teus e das amizades que criaste e que se tornarem inquebráveis. Não te chateies com a mãe porque a verdade é que, como um dia vais descobrir, ela tem sempre razão! E o pai, copia-o em tudo porque vais depois ver que não há no mundo uma pessoa igual. Não te esqueças de abraçar o vô João e o vô Manuel porque um dia vais sentir falta desses abraços. Aproveita isso que tens, o que estás a construir entre uma brincadeira e outra, nos sorrisos. A vida é leve, sempre vai ser, porque o que tu fizeres agora, na tua infância, vais trazer contigo, bafejando os dias com o melhor de ti e dos que te rodeiam e te educaram. A tua infância, deixa-a ser. Entrega-te simplesmente a ela, sem qualquer pressa de crescer.   


























Outras infâncias...

6 comentários

  1. Fotos lindas, e texto ainda mais bonito. Acho que o entregaria a mim mesma, só mudando os nomes :)

    Aquela foto com a família à porta está tão bonita, tão sentida! Gostei mesmo muito :)

    Jiji

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  2. Andaste a dar uma de paparazzi este mês? muahaha adorei os resultados, a tua visão de infância em diferentes contextos foi muito bem conseguida, gostei especialmente da menina na praia a correr em liberdade e da casa das riscas, tão natural.
    O texto tãooooo verdadeiro, até me arrepiei umas vezes. Quando era miuda ouvia essa historia do "nao queres crescer rápido, aproeita a infância que é a melhor altura". Eu não compreendia muito bem, mas olhando agora para trás, segui isso tudo à risca. E o mais incrivel é que conseguimos voltar a ser crianças no nosso dia a dia, indo a uma feira popular, brincar com os filhos das amigas, comer algodão doce...
    Ps - Já te disse que escreves bem pra caraças? ^_^

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    Respostas
    1. As que gostaste mais são as únicas fotos que não são da minha família e sim, nessas duas fiz de paparazzi. :D Na da casa às riscas estava eu a comer uma tripa com nutela, sentada num banco à frente da casa às riscas na Costa Nova quando vi essa família e pareceu-me justamente tão natural que decidi fotografar. A imagem do avô, da menina ao colo (que está lá mesmo que não se veja por completo), a agitação não programada que indica família... foi exactamente isso que me atraiu a atenção.

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  3. Já tinha visto as tuas fotografias, mas faltava o comentário. Estão tão bonitas! <3 As 3 primeiras são cheias de luz, transmitem tanta energia. E a da porta... Ai. Deu-me uma saudade enorme dos meus avós, ao vê-la e ler o teu texto. Adorei Vânia :D

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  4. Omg adorei as tuas fotos e adorei o teu instagram :D eu sou @korina742 por lá se quiseres adicionar também.

    Beijinhos,
    O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin'

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