Off sight | Marrocos
31.12.17
Foram 7 dias de viagem e bem mais de 1.600 quilómetros percorridos de carro. Aterrámos em Marraquexe e seguimos no dia seguinte para norte, em direção à cidade portuguesa de Mazagão (El Jadida). Aà vimos o Atlântico e as ruelas da cidade, fomos ao mercado e jantámos uma sandes na rua junto aos montes de lixo, mesmo atrás da banca do vendedor onde as tÃnhamos comprado. A sua grelha fumegava e haviam mil e um cheiros a especiarias pelo ar. As sandes estavam fantásticas, e não nos cansávamos de comentar isso. Aà vimos o caixote que continha os pães utilizados nas sandes ser derrubado por um gato. O pão caiu no chão, no meio do lixo, naquela podridão, e foi apanhado e guardado novamente. Continuou a servir para as sandes como se nada se tivesse passado. Nós já estávamos no fim da refeição e foi quando percebemos que ali não valia a pena pensarmos muito nas coisas. Já tinha começado a aventura.
Visitámos muitos outros sÃtios no caminho de ida e volta para Merzouga, onde passarÃamos a noite no deserto. Esse era o grande destino: poder estar numa imensidão de areia e dunas douradas até perder de vista. Para o conseguir não estivemos mais de um dia no mesmo lugar, e cada noite foi passada num alojamento diferente. Aconteceu-nos de tudo: fomos multados, tivemos falta de água quente para o banho, de toalhas para nos limparmos, e uma noite desconfortante numa tenda, no frio gritante do deserto. Tivemos também salamandra no quarto e paredes forradas a madeira, no frio Vale du Dades. Acordámos algumas noites à s cinco da manhã com os chamamentos para a primeira oração do dia. Não obstante tudo isto, os lençóis e mantas que nos tapavam tinham sempre o cheiro doce da limpeza, e contámos sempre com alguém para nos acolher, mesmo quando chegávamos tarde e cansados de tantos quilómetros.
Aprendemos a não nos sentirmos estranhos, atentos a tudo e receosos. Não havia perigos, nunca houve, e acabámos por relaxar. ConcluÃmos que é provavelmente muito mais seguro viajar de carro ali do que em Portugal, pois há policiamento na aproximação a cada cidade, outras vezes encontra-se polÃcia no meio do nada, de dia e de noite, e gente a pedir boleia nas bermas da estrada em todo o lado. As pessoas sentem-se seguras, e nós acabámos por acreditar que tÃnhamos motivos para nos sentirmos assim também.
Percorremos tantos quilómetros e nunca nos sentimos sozinhos, nem quando estávamos a fazer estradas serpenteando entre curvas apertadas, à beira de penhascos, ou quando só vÃamos o quase nada dos desertos. Havia sempre gente sentada, a caminhar, de carro, camião, de bicicleta, de burro ou a cavalo. Vimos gente disposta a ajudar em todos os cantos. Encontrámos muitas formas de oportunismo disfarçado de acolhimento, mas não sentimos maldade nas pessoas. A necessidade torna-nos engenhosos, e Marrocos é um paÃs de gente que precisa ser ardilosa para ganhar algum sustento.
Encontrámos gente que nos contou pacientemente histórias de vida, religião, cultura e lugares. Perguntámos sobre assuntos mais complexos como as mulheres, as rezas e as mesquitas. Eu, tão defensora dos direitos das mulheres, com opinião tão formada acerca da religião, deixei em casa as opiniões. Ouvi o outro lado da história e não julguei. Entendi que Marrocos tem berberes, muçulmanos e mulheres vestidas com muitos tipos de trajes diferentes. Tem gente que é dona do seu tempo, e outra a quem os dias e a liberdade são uma condicionante ditada pela história e pelos costumes. Há de tudo, vê-se de tudo. Há uma certa ordem no caos dos lugares por onde passámos. Senti-me em casa muitas vezes e agora que penso nisso, não me importava de lá voltar. Acho que nunca senti isto em relação a nenhum dos paÃses que visitei. Esta viagem marcou-me, e acho que me mudou um bocadinho.
Foi um ano de Off sight. Um ano que chegou ao fim. Obrigada partners in crime por serem tão brilhantes na fotografia, nos textos e na forma como nos organizámos em backstage para conseguir manter tudo isto por doze meses sem interregno. Foi tudo descomplicado com vocês e isso é tão bom! Na verdade, agora que penso nisso, foram dois anos nisto, ou não viesse este projeto fotográfico na continuidade do 6 on 6. Aprendi muito, e desafiou-me de muitas formas. Obrigada pela confiança, e espero ter acrescentado algo positivo com as minhas publicações. Que 2018 nos traga a todo(a)s o melhor. Encontramo-nos por aà e, se quiserem, por aqui também. Beijinho grande!
E vocês, querem espreitar de que forma encerram as minhas partners estes doze meses de projeto? Follow meee!!