Sabem aquele momento em que ficam a olhar para as linhas em branco à espera da melhor forma de começar? Assim estou eu, neste preciso momento. Parece-me inegável que haverá muitas formas de se começar a abordar o amor, mas estou perante o facto de que não me consigo recordar, agora, de nenhuma delas. Nada me parece adequado para começar, e talvez seja melhor assumir que assim fico, petrificada, porque me sinto tão humilde e desarmada perante ele que se me entorpecem as ideias, e os dedos bailam na ilusão de nada em concreto. No fundo o amor é assim... tudo, e nada ao mesmo tempo.

Parece-me que todos os passos que dei desde outros tempos foram em direção ao amor, neste preciso instante em que me encontro agora. Tenho em mim algumas histórias, desde os amores arrebatadores de verão, às paixonetas ocasionais, puros ensaios de algo que se revelaria maior. Vivi outros antes de viver o meu grande amor, e não sei, porque ninguém pode saber, se esse será para sempre. Em qualquer dos casos, nunca haverá um amor mais intenso do que aquele que se vive no agora. 

Quero acreditar que somos nós que, de forma mais ou menos consciente, ditamos quando o amor começa, ou acaba. Se morre, será porque não o estimámos, ou porque passámos a sentir que não devemos deixá-lo sobrepor-se ao nosso amor-próprio. Se sobrevive, então conseguimos, no meio da atrapalhação inicial, conhecê-lo um bocadinho e aprendemos a acertar, mais do que a errar nele. 

As minhas histórias ensinaram-me que o amor não se mete em caixas tipificadas, não é igual a nada, nem perfeito, e pode mudar-nos, e impulsionar-nos. Com ele aprendi que não há relações lineares, certo ou errado, mas sim o que cada um decide que quer para si e que consegue aguentar, dar e receber do(s) outro(s). Dele se fazem os dias simples e absolutamente felizes, mas também, com menor peso na contagem dos minutos, as crises existenciais, com todas as dúvidas e certezas que temos enquanto "eus", a tentar encontrar-nos com o outro, ou os outros, estando ele pelo meio. 

O amor dá trabalho, esconde-se de nós, foge-nos, e requer alguma procura. Não há um que seja melhor ou mais especial que o outro, e todo ele é único, irrepetível... inequivocamente apaixonante. Se não é assim, se é simplesmente um (suspeito) equilíbrio deslavado e demasiado perfeito, sem uma atração tórrida e um sentimento ambíguo de encanto ou ódio, que dura segundos, desvanecendo-se para dar lugar ao melhor de si mesmo, então se calhar não é amor.

2 comentários

  1. "...não há relações lineares, certo ou errado, mas sim o que cada um decide que quer para si e que consegue aguentar, dar e receber do(s) outro(s)". É muito isto.

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  2. Texto tão bonito! obrigada pelas tuas palavras!

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