Sabem como demorar dois dias a chegar a Itália numa viagem de avião? Se não sabem, aprendam comigo porque não vivo para sempre! Pois é, tudo aconteceu em Novembro de 2011 quando eu e a Aurora (uma amiga) aproveitámos a oportunidade de ir passar duas semanas em Itália. Íamos participar numa formação residencial, passear e aproveitar para visitar a irmã dela a viver em Salerno. Estava tudo planeado e ia ser perfeito!


Estava tudo certo. Viagem marcada de avião destino Faro - Lisboa e Lisboa - Roma. Fácil! Ou será que não? A desgraceira começou quando nos enganámos ao ver o horário do avião e trocámos a hora de embarque pela hora de descolagem. Já é suficientemente estúpido ser uma pessoa a fazer isso, mas serem duas é coisa para rogar pragas ao universo por estar a conspirar contra nós. Resultado: quando chegámos ao aeroporto já não era hora de embarcar e ficámos literalmente a ver o avião levantar voo connosco em terra. Também nos sentimos as pessoas mais burras à face da terra, mas isso não interessa nada, tínhamos é que arranjar forma de nos pormos dentro de um avião rapidamente.


Só conseguimos novo bilhete de avião para o dia seguinte, via Sevilha - Madrid e Madrid - Roma. Os nossos moços (que até já estão habituados às nossas maluquices, equívocos e figurinhas tristes) madrugaram connosco e levaram-nos até ao aeroporto de Sevilha para uma segunda tentativa de iniciar a viagem. Chegámos com bastante antecedência para ter a certeza que não havia enganos e eles ficaram connosco até nos verem desaparecer pelos corredores em direcção à porta de embarque. Não havia erros desta vez. Pois não? Não. Efectivamente nós estávamos na porta de embarque até bastante antes da hora (fomos as primeiras a chegar) mas faltava uma coisa essencial: o avião! Onde parava o avião? Uma hora depois ainda não havia sinal dele. O placar informativo dizia que havia um atraso. Isso significava que, pelas nossas contas, o atraso faria que perdêssemos o voo de ligação Madrid - Roma. Será?!


Quando o avião chegou, embarcámos, descolámos e nem nos preocupámos com o som ensurdecedor que o avião fazia. Ao descolar mais parecia que estavam a bater em chapa com um martelo por baixo dos nossos pés, mas nós estávamos era contentes por estar a levantar voo. A nossa aventura estava finalmente a começar! Durante o voo as assistentes de bordo informaram as pessoas sobre as portas de embarque a que deveriam dirigir-se depois da aterragem, para seguir os seus destinos. Havia gente naquele avião que ia para todo o lado! Mencionaram uma série de destinos e portas de embarque, mas não a nossa. Perguntámos porquê à assistente de bordo que nos mostrou um papel rabiscado e lá confirmámos que não constava "Roma" escrito em lado nenhum. Disse que só estava a dar a informação que lhes tinha chegado a partir da torre de controlo. Mau!


Aterrámos em Madrid e pelas nossas contas tínhamos uns dez minutos até fechar a porta de embarque do nosso próximo voo. Até hoje não sei como fizemos porque foi tudo muito rápido e intuitivo. Sei que a nossa correria desenfreada até à porta de embarque implicou consultar o placar informativo para consultar o número da porta, subir e descer escadas, andar de elevador e ainda apanhar o metro. Quando chegámos à porta de embarque estávamos capazes de desmaiar sem fôlego, mas ficámos contentes porque estava ainda uma pessoa à nossa frente para embarque. Podíamos descansar, afinal de contas estávamos safas... íamos conseguir embarcar já naquele voo. Ou será que não?


O senhor à nossa frente embarcou. A seguir éramos nós! Yes! Ufa! Que alívio! Como é que conseguimos tal proeza? - pensávamos, não cabendo em nós de contentes. Mesmo antes de sermos atendidas pela senhora de carrapito e ar muito aprumado, o telefone do balcão tocou e ela atendeu. Falou ao telefone sobre não sabemos o quê e quando se dirigiu a nós e explicámos que estávamos ali para embarcar, mostrando os bilhetes, disse que não ia ser possível porque, como achavam que não chegávamos a tempo as nossas malas já tinham sido desviadas para o próximo voo, que seria daí a MUITAS horas depois. Oi?! Como?! Mas nós estamos aqui, está a ver-nos? Chegámos a tempo! Queremos lá saber das malas, logo as entregam depois! Não, políticas da empresa... blá, blá, blá, pardais ao ninho e o avião descolou e deixou-nos em terra. Bonito!


Os nossos pequenos coraçõezinhos não estavam preparados para tanta desgraceira pegada. Só nos apetecia rir para não chorar. O próximo voo para Roma era só à noite, tínhamos dois bilhetes de alimentação dados pela Ibéria (os desgraçados que não nos deixaram embarcar) e tínhamos ainda montes de tempo livre para fazer... nada! Novamente fizemos contas e a hipótese de chegarmos a Roma a horas de apanhar um comboio para Salerno estavam postas de parte. Ao telefone com a Júlia, irmã da Aurora, começámos a pensar na possibilidade de arranjar estadia em Roma. Pela net ela lá pesquisou e por entre os sítios mais baratuchos havia um hostel disponível mas exigiam os dados do cartão de crédito para confirmar a reserva. Não lhes íamos dar isso por telefone, sem comprovativos de nada! A Aurora decidiu: "Que se lixe, se têm quarto agora também têm daqui a umas horas". E assim, numa golpada de fé (bastante inteligente, já que os últimos dois dias nos estavam a correr tão bem!), arrumámos o assunto por ali, certas de que estaria uma bela cama à nossa espera em Roma.


Efectivamente umas horas mais tarde lá estávamos nós novamente na porta de embarque. Porta essa que nunca mais abria. Toda a gente começou a estranhar. Começou a ouvir-se um burburinho e decidimos dividir-nos: a Aurora ficava junto à porta e eu ia procurar o placar informativo. E heis que quando chego ao placar me saltam os olhos... a porta de embarque tinha mudado! Então e ninguém nos avisava? Saio eu a correr em busca da minha Aurorinha, ela própria, que também já tinha dado pela mudança de porta, estava no meu encalço e juntas lá iniciamos nova correria para a porta correcta, já invadidas por uma tripla sensação de dejá vu. Pelo caminho havia maridos à procura das suas mulheres e toda uma confusão de gente que já estava escaldada com a Ibéria e tentava sobreviver no confuso aeroporto de Madrid.


Mas vá... chegámos à porta certa. O avião arrancou e fartou-se de andar pela pista. Tanto que passados aquilo que nos pareceram uns dez minutos até a senhora ao nosso lado nos perguntou se iríamos para Roma assim, de rodinhas no chão. Eventualmente descolámos. Perfeito! "Agora é que ninguém nos pára!" pensávamos nós. De facto ninguém nos parou até termos tentado sair do aeroporto, altura em que um guarda à paisana nos abordou e de distintivo em riste questionou-nos sobre os motivos que nos levavam ali, quem éramos, para onde íamos, de onde vínhamos.  Quando respondemos a tudo e sem um simples "Ciao" afastou-se para abordar outras duas raparigas. Ufa! Com a maré de azar, por momentos pensámos que íamos presas. Não obstante isso, estávamos finalmente em Roma. Só tínhamos que ir descansar e no dia seguinte a aventura continuava. Mas será que íamos mesmo ter onde dormir?


Àquela hora, onze da noite, já não havia comboios para Salerno. O transfer levou-nos ao centro de Roma e havia logo um taxi na estação quando nos descemos. Tínhamos a morada do hostel, o tal que não tínhamos querido reservar. Quando o taxi nos deixou à porta do mesmo e arrancou, deparámos-nos com uma rua vazia na noite escura e silenciosa de Roma. Olhámos em volta e não percebemos em qual dos prédios era o hostel. Não havia nenhuma sinalização. Atravessámos a estrada na direcção que o taxista tinha dito e descobrimos na campainha de um dos prédios a identificação do hostel. Eu subi as escadas com as malas e a Aurora tocou à campainha no patamar de baixo. Ouvi-a a dizer em inglês que precisávamos de um quarto para duas pessoas e depois do silêncio seguiu-se um "What?!". "O que é que foi?" - perguntei-lhe aflita a sentir o pânico na voz dela. A Aurora disse-me que não havia quarto para nós. Em seguida disse em inglês que qualquer sítio dava, podíamos partilhar uma cama se fosse caso disso. Silêncio. Passado um interminável espaço de tempo recebemos informação de que havia só uma cama e uma de nós teria que dormir no chão. Não íamos dormir na rua? Então já estava óptimo! 

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