Estávamos em Roma, já a noite estava bem instalada e tínhamos acabado de conseguir quase que por caridade uma cama single para duas pessoas, num B&B (bed and brekfast), lembram-se?

Subimos o andar depois de conseguirmos perceber o funcionamento do elevador daqueles estilo antigo, com duas portas. Quando batemos na grande porta de madeira que nos permitia entrar no hostel ainda não sabíamos muito bem o que nos esperava, mas estávamos confiantes porque no meio da trapalhada que estava a ser a nossa viagem tínhamos sabe-se lá como entendido que o senhor que nos recebia era um conhecido da Júlia (vão ter mesmo que ler o outro para perceber quem é a Júlia). O senhor abriu-nos a porta e mostrou-nos o nosso quarto, onde nos apresentou ao rapaz que gentilmente tinha aceitado partilhar o seu espaço connosco. Ao entrar lembro-me de uma fruteira com maçãs muito vermelhas em cima da mesa de cozinha. Recordo-me que estavam em torno da mesa redonda uma mulher e dois homens. A Aurora lembra-se que tinham um ar um bocado mocado, mas eu fixei-me foi nas maçãs apetitosas. O quarto tinha duas camas single, uma já ocupada pelo tal rapaz. Havia um espaço entre as camas e foi aí que estendemos os edredões onde a Aurora se prontificou a dormir.










Era tarde e o comboio para Pompeia (onde tínhamos entretanto combinado encontrar-nos com a Júlia) partia às sete da manhã. O tempo para descansar era pouco e tudo o que queríamos era tomar um banho e dormir. Fui a primeira a despachar-me para o banho. Quando cheguei à casa de banho deparei-me com uma banheira ainda húmida e com cabelos pretos espalhados. O nojo foi imediato e não consegui reagir. Lavei-me à porca para desenrascar mas na banheira é que não me enfiei. A Aurora fez o mesmo. Só passado um bocado é que o dono do boteco, de balde e esfregona em riste, veio dizer-nos que casa de banho já estava lavada e podíamos tomar banho. Eu já não conseguiria nem mesmo que quisesse, ainda tinha a imagem dos cabelos na cabeça e de qualquer forma, o que queríamos mesmo era dormir. O senhor entretanto perguntou-nos como tínhamos tido conhecimento do seu hostel. A Aurora falou-lhe da Júlia que já tinha ali ficado hospedada, que ela é que tinha recomendado. Ele pensou durante um bocado e depois abriu o rosto num sorriso e disse: "Oh, Júlia! Yes!" e comentou com os outros que a Júlia era nossa amiga. Mais tarde, ao contarmos este episódio à Júlia, ela disse-nos que nunca esteve naquele hostel, encontrou-o numa pesquisa pela internet. Fartámos-nos de rir porque efectivamente o senhor conhecia alguma Júlia, só não era a mesma que nós!


Madrugámos. Às cinco e meia começámos a despachar-nos porque para além de carregar as malas não sabíamos ao certo onde era a estação de comboios e ainda tínhamos que tomar o pequeno almoço. O dono do hostel na noite anterior tínha-nos dado duas senhas para levantarmos o pequeno-almoço num café no mesmo prédio onde estávamos. Chegadas ao café lembro-me de ver uma montra cheia de bolos cremosos. Tinham muito bom aspecto mas não para comer àquela hora da manhã, não depois de termos passado o dia anterior a comer comida de aeroporto. A Aurora pediu uma sandes de queijo e um capuccino. O empregado de balcão disse que aquela senha dava direito a uma bebida e dois bolos. A sério? Oh God! Lá fomos nós para o comboio com o capuccino e um saco de papel carregado de bolos que não íamos conseguir comer.











Chegadas a Pompeia a Júlia esperava por nós no apeadeiro. Tinha consigo um saco recheado de frutas, bolachas e sumos, que seriam para petiscarmos ao longo do dia. Lembro-me de imediatamente ter pegado numa tangerina, porque estava esfomeada. Acabei por não a conseguir comer de tão amarga que era. Passámos o dia em visita a Pompeia, a parte resgatada das cinzas da erupção vulcânica.





























Quando se fez noite partimos para Salerno, onde íamos pernoitar. A Júlia vivia aí e partilhava casa com duas raparigas complicadas que não gostavam de visitas em casa. Conseguiu que autorizassem a Aurora a pernoitar por ser irmã e tal, mas a mim não e por isso tínhamos reservado quarto para mim num hostel. Quando chegámos a Salerno, como as colegas de casa da Júlia não estavam, consegui tomar um banho ali mesmo antes de irmos jantar. Estávamos bedunguentas depois de dois dias terríveis e foi bom finalmente poder relaxar um pouco.

O jantar foi numa pizzaria muito pequena e tradicional e comi aquela que me pareceu na altura a melhor pizza de sempre: massa muito fina e crocante, com sabor a mar, azeite e alho. Não sei se a pizza era muito boa ou se eu é que estava faminta depois de dois dias de má alimentação, mas o que é certo é que comi a pizza inteira e fiquei a abarrotar. A Júlia quis que a irmã conhecesse uma família italiana que a acolheu quando chegou a Itália. Depois do jantar, cansadas e cheias de sono, fomos ainda fazer a visita. Receberam-nos com simpatia e sentámos-nos todos em redor da mesa na sala de estar. A dona da casa ofereceu--nos um licor feito por si mesma. Eu gentilmente declinei pedindo à Júlia que lhes dissesse que não consumo bebidas com álcool. Quando a Júlia lhes explicou isso mesmo ouvi um burburinho e senti que se calhar tinha ofendido alguém. A Júlia comunicava com eles em italiano e eu não percebia nada. às tantas disse-me que o melhor seria eu aceitar alguma coisa para beber. Pedi um chá. Novo burburinho. A Júlia explicou-me que eles estavam a estranhar eu querer beber chá à noite. "Ora merda para isto", pensei eu. Lá me fizeram o chá. A velhota da casa, sentada ao meu lado, insistia para eu comer bolos. Eu estava mesmo muito cheia do jantar mas lá acabei por comer um bolo antes que ofendesse mais alguém.

Chegada ao hostel fiz check-in e o recepcionista acompanhou-me ao quarto, que ficava ao fundo num corredor escuro cheio de grafittis com bandeiras de vários países. O quarto destinado a mim era comprido e tinha seis camas, das quais apenas uma, além da minha, estava ocupada. Conheci ainda antes de me deitar a velha loira com ar de sargenta acabada de sair de uma guerra mundial que ia ser a minha colega de quarto naquela noite. Achei estranho. Não é aquele tipo de pessoas que estava acostumada a encontrar em hosteis. A minha cama ficava logo à entrada resguardada por dois guarda-fatos. As restantes cinco ficavam do lado de lá dos guarda-fatos, o que me dava alguma privacidade. Menos mal, só tinha que conseguir esquecer-me que aquela velha assustadora estava no outro lado!

A cama estava por fazer e o recepcionista indicou-me que dentro do guarda-fato com o número da minha cama estavam os lençóis. Quando fui fazer a cama vi que os lençóis eram amarelados, aquele amarelado que indica que já estão velhos e carcumidos pelo tempo e muitas utilizações. Comecei por desembrulhar a fronha e vi que tinha cabelos. Estava tão cansada e cheia de sono que não quis saber. Pus os lençóis de lado, deixei a cama por fazer e peguei apenas numa manta. Dobrei o meu casaco para fazer de almofada, tapei-me com a manta e depois de me conseguir acalmar (aquele sítio parecia-me um bocado bizarro e confesso que senti medo), acabei finalmente por adormecer.   

5 comentários

  1. Isso foi mesmo uma viagem atribulada, estou à espera da continuação :)

    P.s.- aproveito para te informar que já respondi ao desafio ;) http://planosparaamanha.blogspot.pt/2015/04/liebster-award.html

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  2. Ahaha a nossa viagem! Acrescentava uns detalhes e mudava outros... O resto n é tao divertido mas ainda falta a parte dos bilhetes do azar, o pombo e a água suja... Foi uma bela aventura está nossa viagem....

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    1. Mas esta é a minha versão da história. A tua certamente será diferente. É suposto ser mesmo assim! :)

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