No entretanto dos últimos tempos não existo, vou só executando tarefas. No meio disso dou por mim a estagnar para me focar no horizonte. Desde setembro já vi mais vezes o pôr-do-sol do que nos outros tantos meses que ficaram para trás. Vejo-o quando largo tudo, conduzo meia hora para a praia e fico quieta na areia até ele se esconder, para depois regressar a casa. Encontro-o quando conduzo de carro na sua direção. Vi-o no outro dia quando acordei às cinco da manhã e ainda não tinha parado às sete da tarde. Estava no comboio, sabendo que ainda tinha que ir de metro até ao aeroporto, para regressar de avião para casa, depois de táxi e ainda de carro, até finalmente atravessar a portaleira do meu canto, com as minhas cenas e os meus cheiros, já perto da meia-noite. Foi uma merda dum dia chato, mas vi o sol a descer avermelhado sobre o Douro e pensei que agora que sinto não ter vida, encontro-me muitas vezes com ela nos pequenos momentos em que paro. Sabe-me bem o tempo de pausa que encontro na loucura dos dias, mesmo que esse me surja em forma de uns poucos minutos. 

Apetece-me muitas vezes fugir, mas não tenho dinheiro para isso, nem tempo, nem carro. Uma velha fodeu-me o carro no outro dia quando se lembrou de não parar no STOP e agora até que tudo se resolva estou em suspenso. Atenção que não escrevi velha por ser depreciativo, escrevi-o porque é mais fácil para visualizarem o tipo de pessoa. Se tivesse sido uma gaja mais nova, escrevia só uma gaja e vocês chegavam lá, certo? Mas enfim, voltando ao carro: os procedimentos do costume levam tempo e ironicamente isso é coisa que eu não tenho, porque se tivesse poderia pensar ou tomar as medidas que poderiam apressar a resolução da cena. Uma merda. Mas o sol pôe-se e nasce todos os dias, eu tenho sempre que comer, que tomar banho e oiço as minhas músicas enquanto trabalho ou me preparo de manhã. Quando o sol nasce estou a dormir, mas quando se esconde estou lá com ele. Roubo os domingos para mim, consigo ir encontrando as pessoas que me fazem bem, mas não passo muito tempo com elas. É tudo em fast forward agora, porque nos entretantos de tudo tenho, ainda, que ir ao supermercado. 

No meio disso tudo fujo para os substerfúgios que me conduzem a mim. Encontro-me, analiso-me, penso-me, repenso-me, chateio-me, digo foda-se umas quantas vezes por dia (às vezes não verbalizo, é só para dentro), saboreio os momentos com alguma tranquilidade e nem consigo perceber de onde vem esse equilíbrio. Acho sempre que vou descambar, que sou mais fraca do que sou na verdade, que sucumbo perante todas as coisas, mas so far so good! Sinto-me mesmo calma e acho que isso reflete o meu crescimento interior. Às vezes choro e permitir-me isso é o melhor sinal de todos. Choro porque me esqueço que tinha rimel, coço-me e ele entra-me dentro dos olhos. Arde como o raio! Outras vezes choro porque me dói o coração, por causa das ausências e das incertezas. Ó pá, se tivesse ainda menos tempo, se calhar deixava de sentir isso também. 

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